Monday, January 22, 2007

silvos de paz

doem-me as coisas que não fiz,
por saber a dor dos outros;
são calafrios, arrepios,
sussurros de insuficiência,
são chamas do que não se diz.

escondem-se verdades
em escombros de mentiras,
em palavras vendidas,
e a cada dia me ensaiam utopias
sobre os corpos da fome
de crianças sub-nutridas.

soam a segurança as balas,
as bombas tele-guiadas.
dizem-se pombas onde voam falcões,
mostram-nos mãos onde apontam canhões.
e morremos devagar,
os que comem sofrimento sem saber,
os que acordam mortos sem sonhar,
os que sonham acordados e ficam só a ver,
os que, a ver, perdem a força de lutar.

Tuesday, January 16, 2007

ar apagado

envolto em ti,
respiro ar apagado.

da história,
da vida,
do passado,
do futuro,
do olhar,
do abraço.

e os beijos que ficam por dar,
são sussurros, murmurados,
por um fôlego de mar.

Monday, January 15, 2007

permanência consciente (ou consciência permanente)

desprendi-me da noite ainda antes de o sol nascer.
ouvi cantar a madrugada e tremi,
como se o amanhã levasse os dias a que vivi abraçado.

mas antes de me despedir de ti, ao morrer,
agarrei-me a um vime debruçado,
e fez-se claro, não há futuro que apague o passado.

Friday, January 05, 2007

vagabundo

vagabundo entre as ruas
de mim próprio.

pulsam-me as veias de ilusão,
e olho o sol pela lupa do descontentamento.

bam-bam, bam-bam...
bate.

errante e vagabundo
saboreio as confissões da minha vida,
esfuziante até,
mas não moribundo.