Friday, June 27, 2008

these days

it’s true that i’m seen smoking
before breakfast, these days
and that a boy with hair of clouds
duck-taped something square and foil wrapped
to the inside of a newspaper kiosk
for me.

it’s true i drink whisky neat
bymyself
before bed, and in dark bar stools.
and sometimes
i leave the party
before the lines have all been drawn
and go jump fences.

it’s true i carry a toothbrush in my purse
just in case,
and i have the number to a good lawyer
tattooed on my wrist.
it’s true i recite to my friends
survival skills for bears, mountain lions
and the FBI.

it’s true i sometimes skip work
to lie on the roof and count my blessings
and my sins to strangers,
and it’s true i pour myself a stiff drink
before calling home, most times,
and i always read the obits first.

but i’m still sweet, you see,
and hug strangers just because.
i smile when i ride my bicycle
(which is often, these days)
and most of those fences
take to parking lots and playgrounds.
plus the package
in tin foil
had not drugs, nor bombs, my love
just a book
for the plane.

Monday, June 23, 2008

poder

à luz estranha das tochas decorativas do jardim, sob o ar denso do final das tardes de verão, com as encostas tímidas ainda insinuadas no fim da paisagem onde o sol se pôs, conversámos de pé.

fiz-lhe companhia naquela noite até ali, mas sabia que em breve ele teria de ir aqui e além apertar as mãos dos outros. os fatos escuros passeavam-se por ali, uns sós, outros acompanhados. os gordos encostavam-se a uma coluna ou a uma ombreira de porta – olhando o jardim desinteressados, bocejando o tédio cá para fora, desejando o sono lesto sob o calor húmido. geralmente acompanhados de suas senhoras, que tão bem decoravam o espaço, valha-nos deus com aquelas vestes absurdas de verde, de amarelo, de tantas cores, e aquelas jóias de outros tantos tons que nos passavam diante dos olhos sem que tivéssemos sequer tempo de lhes apreciar a beleza, tal a rapidez com que nos apercebíamos da fealdade do conjunto.

o jardim estava separado por um balcão de pedra esculpido em pilares polidos. junto à casa, o chão de pedra dificultava os saltos das senhoras e lá em baixo, na relva prateada pelo luar, junto à pequena fonte de inspiração clássica, passeavam de copo em riste os outros que não se rendiam ao sono e ao tédio. por ali voavam palavras distantes dos assuntos do trabalho, pouco importava a situação económica do reino-unido ou as explorações de petróleo no médio-oriente. a situação política do continente asiático também se ficava no chão de pedra onde as senhoras custavam a equilibrar-se.

enquanto ele cumpriu o seu negócio, aproveitei a noite para raros momentos de ócio em tão belo jardim. longe do sol abrasador e das lanças do calor, aproveitei as escadas que desciam até à relva e o caminho escurecido pelas folhagens em arcada para fazer descair, ponderadamente e com gesto bem cuidado, um pouco a alsa do ombro direito, anunciando o pescoço, onde descansava o fino e simples fio de prata. o copo seco foi atirado para cima de uma bandeja que passava, trocado por outro, com a dose de espumante para desfazer o sabor dos chocolates horríveis que me tinham obrigado a comer, vindos sabe-se lá donde. e ali foi o copo vazio trocado por um cheio, para que se cumprisse o destino das coisas.

a lua brilhava forte, e o ar quente acolhia o seu brilho como num abraço, a relva parecia húmida de tanto luar. sobre a prata da relva e sob o clarão da lua, encostei-me à bancada da varanda, feliz. de ombros nus ao calor, um pouco turva e confusa de sentidos, de alcoól e de conversas alheias. sentia no pescoço aquela brisa de verão que por si só nos faz sorrir. outro se juntou, elegante, gravata escura, cigarro aceso, puxando um fumo sereno. trazia um e outro copo, cheios. passou-me um com uma boa noite aconchegante e vibrei. tirei apenas uma mão do balcão da varanda, para lhe receber o copo, agradecendo com um olhar nos olhos que se deslocou em aceno para o seu peito. as palavras de circunstância são nestas ocasiões absolutamente desprovidas de qualquer substância, como aliás, lhes costuma ser característico. por isso mesmo, me falou sem enfeites logo após perguntar o meu nome. em tons de sedução tão óbvios quanto motivantes e eu sentia-me o centro, o motor da sua vaidade.

o meu corpo aberto, sob um vestido de ofensiva e pecadora transparência, mostrava-se-lhe com impulso próprio. e eu que era apenas convidada como acompanhante... lá em cima a minha companhia, olhava pelo canto do olho a minha aventura descabida, despreocupado. senti o olhar e abandonei-me. o meu poder era infinito naquele momento. em mim se concentravam as belezas e as forças do mundo todo daquele momento daquelas vidas. e o poder de ser eu, de provocar despreocupação por amor profundo, de suscitar excitação por gozo puro... era esse o meu desígnio por minutos.

o próprio poder era eu. bastava-me querer que o rídiculo cobriria de negro aquele homem e nem uma ponta de vergonha o tocaria por isso. não era ele que me excitava, mas sim eu sobre ele. não era amor ali na bancada da varanda, era poder. e mesmo assim, apeteceu-me por instantes o abandono de tudo, entregar-me. encostar nu o peito ao peito forte de outro, dele ali tão perto e tão disponível, tão entregue e desprotegido.

perderia a noção de quem seria afinal o poder. porque o poder de seduzir está na capacidade de negar, mesmo que no último momento os sopros do prazer. a corporização reduz o poder ao mero desejo mortal, comum ensejo de homens e mulheres que não se amam. por isso mesmo, o olhar que diz sim é um corpo que diz não. é isso que me eleva ao orgasmo, porque é esse o meu poder.

os copos já vazios, sob a bancada, lá em baixo o rio ria-se de mim, sentia-me intimamente palpitar.
a conversa durou o tempo exacto para que ninguém desmotivasse, pelo contrário. virei as costas com boas noites delicadas, um olhar demorado ainda o agarrou uns instantes enquanto me afastava. seguiu-me, e sem que soubesse, tremi e senti o terrível vazio do início de noite. mas eis que dou os braços à minha companhia. ao meu homem. e me vou.

Thursday, June 19, 2008

desilude-se quem se ilude

nada é tudo o que tenho,
todavia, nada mais quero
que o vazio sou eu e tudo é ilusão.

nada é tudo que tenho,
e tudo o que tenho me basta
para passar de mão em mão,
tudo o que cada vez mais sei ser ilusão.

Wednesday, June 18, 2008

sob(re) os escombros

sob os escombros
escondem-se as almas,
negras dos tristes.

não tem fé em si próprio
quem toda a vida espera por deus.

sobre os escombros
erguem-se as vozes
luminosas dos homens.

tem a força de deus
quem toda a vida tem esperança em si.

para esses brilha o sol, luz a lua.

Wednesday, June 04, 2008

bondades ao domingo

a igreja, alta, imponente, trazia-me uma calma que outros edifícios não podiam trazer. as palavras sábias da fé brotavam qual água de nascente pela voz do padre, mensageiro dos desígnios divinos dos mais altos altares do universo. palavras calmas submergiam-me diariamente numa transe inconsciente, uma meditação transcendente que ultrapassava o meu raciocínio e se fundia com cântigos e orações.

e a igreja, o altar, o crucifixo, as figuras, o tecto, as abóbadas, as arcadas, os pilares e colunas, a talha perfeita e bem cuidada contrastavam com o abandono da minha rua, com a sujidade da cidade. as palavras de deus estavam ali esculpidas e deus chorava suas lágrimas e espalhava seus ensinamentos àquele rebanho.

à saída, ainda evolvido no espírito santo e nas boas-graças do senhor, entornei umas moedas da minha carteira para um pobre amputado que chorava ao portão do adro divino. depois de ter pecado a semana toda, de ter cometido quase todos os pecados mortais e outros de menor porte, só assim poderia purgar minha consciência das ofensas a deus. o amputado ficava sempre a ganhar umas moedas para o que lhe conviesse. e que seria da minha consciência não estivesse ele ali? não há terços nem castigos que me descansem como umas bondades ao domingo.