Thursday, March 26, 2009

amanhã

vivemos a era da morte
mas da força em potência
capaz de ser mais forte
que à nossa volta a decadência,

decai...

morte... morte...

porém os nossos braços
construirão pontes para o lado de cá.
do orvalho, fresco.
da aurora.

aurora.

Tuesday, March 24, 2009

sem título

o vento do sul acalmava agora enquanto o sol mergulhava nas águas negras douradas.
os cabelos dela entre os meus dedos como sonhos e nos nossos dorsos a brisa perdida.
depois de me ter apaixonado, todos os dias eram dias de Maio, à beira do rio.

tatuagens

disseram-me um dia que nunca teria oportunidade de alterar o passado.
hoje suspiro.
pois que sou a soma dos momentos passados que se me cravam como tatuagens.

e gosto das tatuagens assim, permanentes.

Friday, March 13, 2009

o que eu queria mesmo
era poder esculpir um poema
como quem esculpe uma pedra
conhecer-lhe a dureza,
a clivagem e a partição,
a estrutura,
poder escoprá-lo, dar-lhe um nome, uma cor.

retocar-lhe uma aresta,
até que a rocha bruta se me surja
em estrofes e versos
com a luz da manhã
e rimas alternadas
de minerais, metáforas e cristais.

lembrei-me entretanto,
que não sei escrever na pedra,
nem esculpir no papel.

Thursday, March 12, 2009

poesia a concurso?

não sei porquê, meti-me nisto. mas acho que já estou arrependido.

Friday, March 06, 2009

noite

sobre a mesa, descansam agora os copos vazios. num deles ainda se nota a marca dos teus lábios.

gosto de acordar e ver que a noite se prolongou, que os cigarros arderam sozinhos no cinzeiro e que os copos ficaram abandonados na mesa da sala.

gosto de te ver nua, cruzando o corredor, que espreito deitado.

gosto do lume dos teus beijos, do sopro do teu corpo.

ao lado da cama, as roupas renitentes, fazem qualquer dos dias parecer sábado de manhã.

vem

dou as voltas necessárias
e as nem tanto
à noite nos lençóis.

faltas-me,
o ar apaga-se-me,
e a luz esconde-se por debaixo da porta,
mesmo quando o sol brilha lá fora.

à noite nos lençóis,
brilhas ausente sobre o meu corpo
que me falha, por te não ter.

Monday, March 02, 2009

indiferença

passando os dedos no jornal,
vejo letras pretas
que contam negras histórias do meu mundo

e quando sorvo o café,
revolta-me não estar sujo
da mesma lama,
do mesmo sangue,
exausto do mesmo esforço,
sôfrego do mesmo ar,
faminto pelo mesmo arroz,
morto pelas mesmas balas.

e eis... que,
na verdade, estou.

sujo, sim.
doente está porém quem nas mãos traz o jornal e na alma
a indiferença.

quando te vi

quando te vi
pensei que se pudesse
te soprava a minha alma no pescoço
como um vento quente
que perduraria até ao pôr-do-sol

quando te vi
pensei que se pudesse
te traria flores do outro lado do mundo
com pétalas intactas
adorados espelhos, lentas paixões

quando te vi
pensei que se pudesse
te punha a mão na anca,
leve, ao toque contemporâneo
de um beijo sobre os lábios

quando te vi
pensei que se pudesse
passaria a existir no teu mundo
distante, longínquo
como a linha do horizonte