Thursday, November 24, 2005

somos comunistas

somos o vento de cada dia
carregado de braços levantados
mãos cerradas
rostos erguidos,
somos o caminho trilhado
no presente pelo homem novo do futuro.

Thursday, November 17, 2005

dia de mar revoltado

o que nos corre por dentro
nos enche de fogos e chamas vivas
as entranhas do nosso próprio tempo,
da vida que não levamos vazia
o que nos sussurram os ventos que uivam
à noite escura agitando almas,
o que faz sentir um corpo crescer
até aos limites do ser que é assim inteiro
inteiro de mim e de ti
inteiro do que fica no meio dos corpos,
aquele sangue pressuroso capaz de pintar quadros
em cada mundo por aí espraiado
coberto, às vezes, com ondas de espuma
tua
branca como uma manhã,
forte como a força da própria Terra
que nos puxa para um chão
que não encontramos no muro onde se escreve razão.
é o que nos eleva a filhos dos rios,
é o que faz entre nós e a primavera não existir uma única distinção
é gritar de pulmões amazónicos um colossal “Amo-te”,
vibrante por todos os ventres,
gigante como uma montanha acesa no princípio dos deuses,
quente como o mar que abraça o sol numa tarde sob o teu olhar.

Wednesday, November 09, 2005

serenidade

queres pensar sem estar
estar sem ficar em lado nenhum
ser pensando em não actuar
agir, sendo tudo por momento algum

queres viver, bebendo segundos
beber a vida em mosto doce
sem provar sequer o ar
que desde o nascimento ta trouxe

haver sem ter
nada na mão fechada
que por momentos agarra
areia e terra molhada
que tanto são como não
a alma que pensas ter no coração

Thursday, November 03, 2005

a morte com o coração a bater

é como estar morto,
sentindo que morremos,
esventrados com o coração
a pulsar de morte.

e estar vivo assim
não é mais que respirar soterrado
com o peso de um fogo aceso
pelos dias de um sorriso passado,
como estar morto preso
a ti próprio acorrentado,
sem ter refúgio em vida
senão o do gelo que se agarra à alma,
o do vazio de uma árvore de inverno,
negra, escura, na lua fria esculpida.

já não se desprendem beijos,
os abraços são despedidas,
já não arde o coração
por mais que queime ainda
o gesto, a alma, a lágrima,
a própria morte.