no meu jardim há uma árvore. dá flores bonitas na primavera e só se despede delas no verão.
cuido dela como se deve cuidar qualquer árvore. e ela ergue-se vigorosa abraçando as estrelas com braços que só dançam quando lhes sopra o vento. claro que ela trata de mim como é suposto ser tratado por uma árvore. ela acolhe-me sempre, verdejante ou negra, tanto faz.
junto à raiz a terra tem um cheiro diferente, cheira a comunhão. e seja verão, outono, inverno ou a outra estação há sempre nela um espelho múltiplo de sensações. há um jardim tenebroso e oculto para as minhas lágrimas, uma sombra fresca para os meus sorrisos de criança.
quando senti medo da morte, um dia, foi a ela que me cheguei.
caíam os raios de sol oblíquos como se o próprio deus sobre a terra se lançasse.
olhei a copa com flores, fiz as perguntas que tinha a fazer.
a resposta foi a mais clara: lenta e naturalmente, caiu uma pequena flor.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
5 comments:
Muitas vezes o "simples" e o "complicado" estão mais dentro de nós que no mundo exterior.Muitas vezes a verdade é admiravelmente simples e concreta, como a pétala de uma flor.
... ou o cantar de um galo. Que se diria eterno porque dali ouvimos vir o seu canto.
... ou o regresso das andorinhas. Que parece que nos vêm dizer "cá estamos... ainda bem que te encontrámos de novo".
... ou a segunda floração das glicínias. Que assim nos mostram que há coisas que não precisam de esperar a rotação de um ano para regressarem e nos alegrarem.
E eu a julgar que isto eram coisas de velhos... Obrigado pelo teu belo texto e também ao basimah pelo comentário não menos belo.
corrijo: ... ou o cantar de um galo. Que se diria eterno porque daquela casa vizinha sempre ouvimos vir o seu canto.
(e é assim que se estraga uma intenção que mistura abraço com a forma de o dar... poque há abraços e abraços)
eu sabia que vinha de uma casa vizinha... que até se avista daí.
bom... mesmo.
Post a Comment