Wednesday, October 29, 2008

dar

como posso dar-me se me não tenho?

estende as mãos

abre as mãos e estende-as,
quase me tocas o coração,

sei que o sentes, quente
como quentes são tuas mãos.

agarra quem possa cair à tua frente
para o salvares do chão,
não sabes um dia serás quem tropeça
e eu quem te estende a mão.

Friday, October 24, 2008

silêncio

o silêncio mancha-te
de sangue as mãos.

Wednesday, October 15, 2008

humanidade

homo - género que define o homem, por significar à letra "o mesmo" na sua origem latina.
homem - termo que deriva do étimo latim, significa pois "o mesmo", sendo que é o homem que se classifica numa fórmula taxonómica elaborada à sua própria imagem. "Homem" é portanto uma palavra de género simultaneamente masculino e feminino, daí correcta a sua utilização para referir o conjunto da espécie humana.
Humanidade - a propriedade de ser Homem. e não podemos ignorar o papel da linguagem na nossa estrutura racional, daí que o que nos define como "Homem" é sermos "o mesmo". "o mesmo" que se classifica, "o mesmo" que se observa, somos assim o objecto e o sujeito. tudo fazendo parte de um processo em que somos o princípio e o fim. Humanidade é a propriedade de ser "o mesmo".

o que nos define é sermos o centro dos processos, mas mais do que isso, é sermos humanos, "os mesmos" que... "os mesmos", os homens - e este "homem - homo" é paralelamente um "nós", um "vós" e um "eles". é também isso que nos caracteriza e que nos cobre de humanidade, mesmo os que se recusam a acatar o seu lugar entre os homens, sermos definidos em função do "outro". pois "eu" sou o "o mesmo" que "vós".

- sem título -

a lua persiste tanto nos céus escuros
como em sibilar o teu nome
que o nunca esqueça, como não esquece a lua
os meus sonhos.

Monday, October 13, 2008

de joelhos

que reservará a vida
a quem vive com os mortos,
ajoelhado aos lamentos
de marinheiros sem portos?

que sorriso se espera
a quem vive contente
onde o engano reina
e o desespero impera?


ajoelha-te, fiel,
aos pés frios de ouro,
do meu altar condenado,
então voarás aos céus,
eterno, jamais enfermo,
finalmente libertado.

Friday, October 10, 2008

sem título

o meu amor é uma navalha
aguda, de reflexo crepuscular
que me sangra,
e o sangue me falha
vivo, vermelho, a palpitar
e eu, exangue, me exalto.
não há dor que me ascenda tão alto
e quase morto, sorrio.

Wednesday, October 01, 2008

a palavra

a soma de duas palavras resulta num mundo novo, em manobra "divina" de criação. a construção de uma frase pode ser um sonho, um desejo, um sabor, um amor, tanto quanto pode trazer-nos ao terror, à aflição e à agonia. a palavra tem o valor de ser um tijolo vivo, com a qual podemos construir as mais belas estruturas e as mais emocionantes sensações. é por isso que a poética não conhece limites, que a narrativa gera universos e a palavra é, nas mãos dos homens, uma expressão superior do seu próprio Ser. é pela capacidade criativa do homem que a palavra ganha o poder único de transcender e superar o seu próprio criador, porque ela deixa de ser resultado da imaginação e passa a ser a própria imaginação, deixa de ser uma forma de expressão para ser a própria expressão, porque ela deixa de ser resultado de um processo para ser o processo. deixa, enfim, de ser resultado de um sentimento para ser um sentimento.