Wednesday, October 25, 2006

Ascalon

lá onde o ar é sangue,
e pelas suas entranhas
se suspende o próprio povo.
onde as veias pulsam dor,
brotando sempre de um braço novo,
lá onde o vento é fulgor,
é gente resistente,
não há pedras estranhas,
nem liberdade persistente,
há blindados que cospem morte,
balas que matam gente.

lá onde a terra fala fogo,
e a ira é triste canção
a pedra em vez de flor,
ainda hoje brota do chão.

tristes poetas dessa pátria,
vosso rosto erguido,
amputada a terra, escreve o amor.
poema inteiro o vosso,
decapitado na dor.

Tuesday, October 24, 2006

eco do futuro

dá mais um passo
que enquanto caminhas
outros, mesmo parados,
te amparam.

dá mais um passo,
sem esquecer, no entanto,
o trilho caminhado
que sobre ele construirás futuro,
rumo ao sol, deixa a sombra no passado.

outros, mesmo parados,
caminham a teu lado.

dá outro e outro e outro passo,
não há caminho que se nos oponha ao
unido compasso.
a perseverança somos nós,
a voz e o som do infinito.

Tuesday, October 17, 2006

hoje é dia de fugir
e de querer fazê-lo num poema.

chove

por onde caminho, viajo,
sinto Palavra em chamas
Verbo alucinado.

Por onde viajo, caminho,
chovem horas desaparecidas
atravessam-me suaves minutos.

Por onde fujo, corro,
Palavra Verbo
horas minutos,
por onde corro, fujo
chamas alucinadas
suaves desaparecidas.

por onde vivo, morro.
e chovo sobre mim os dias da minha vida.
por onde morro… vivo.
chove… nas noites da tua vida.

Monday, October 16, 2006

valsa a dois tempos

se tu escreveres
eu escrevo um poema
contigo.

se quiseres dividimos
as metáforas
ao meio.

partilhamos pão duro,
pontas de cigarros
e arrependimentos.

desenraizamos memórias desvalidas
dividimos
repartimos
partilhamos.

se escreveres comigo
eu escrevo
meio poema
de amigo.

Thursday, October 12, 2006

espelhos

desprendi-me do tempo.

corre-me o sangue que estancara,
dá-me vida, corpo e alma.

levantam-se madrugadas,
erguem-se novas moradas,
onde há lareiras
cortinas escuras
e cadeiras
e um espelho baço
de futuros
e passados.

sou o momento.
não tenho lugar no tempo,
minha existência é uma fugaz coincidência
da espessura de um reflexo.
sou película ínfima dos desejos
humanos de imortalidade.

eu e tu,
separamos como fios de navalhas agudas,
as componentes do tempo.
projecções de mil ideias resignadas
outras tantas revoltadas.

desprendemo-nos do tempo.

Tuesday, October 10, 2006

como as coisas são

quero o teu beijo e a vida, e o outono sem flores.

Saturday, October 07, 2006

Tuesday, October 03, 2006

sou

um copo transbordante
de absolutamente nada.