enquanto fumávamos aquele cigarro juntos, pelo carreiro, trocámos palavras sobre a paisagem. sobre a planície que se estendia a nossa direita elevando-se aos céus lá ao fundo antes de mergulhar a rocha no mar. aquele verde subjugou-nos, involuntariamente. aqueles afloramentos de profundidade exposta desenhados pelo vento e pela água primordial foram a matriz de todo o nosso pensamento. e o cigarro queimava lentamente.
e quando parámos à sombra da parreira que subia à nossa esquerda, contemplámos apenas a grandeza dos campos.
quando tomava café sozinho de manhã, li no jornal sobre o fogo que lavrou o verde e as terras. que tornou o verde em cinzento e a terra em morte ígnea. a parreira aparecia numa fotografia em página impar do jornal, mas parecia apenas um desenho a carvão, sem folhas, ramos contorcidos e encurvados como que protegendo-se da dor. o muro antes caiado de onde brotava a parra, preto. era dia de breu na encosta da serra.
e uma caixa de texto no jornal, na mesma página, lia ainda que por detrás do muro morava gente e que preparavam a vindima para setembro. mas dizia mais. que não haveria vindima porque suas casas tinham sido comidas pela terra que ardia.
e eu lembrei-me do passeio ao longo do muro antes caiado. e lembrei-me que falámos apenas da paisagem. por detrás do muro estavam pessoas.
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