ao percorrer o corredor da galeira, frio e branco, sentia uma corrente de ar ténue soprando a minha cara. nas paredes, as lâmpadas pequenas apontavam para quadros de cores de verão, onde as chamas dos pincéis dos mestres haviam deixado indeléveis queimaduras. estava sozinho no corredor e as vozes mais próximas atravessavam duas salas até chegar a mim - podia sorrir sozinho e deleitar-me no prazer íntimo de quem se arrepia perante a arte, mesmo sem saber a técnica, o meio, e o nome do pintor.
a luz escorria pelas paredes abaixo detendo-se em cada desenho e pintura, como em adoração de si própria. eu era apenas uma mancha de escuridão, para quem a ausência de luz era efeito do desprezo que lhe merecia. porque ali não era eu sujeito da observação, como o monge que não respira, antes é respirado pelo ar que lhe passa pelas narinas até aos pulmões.
as vozes afastavam-se e eu ficava mais sozinho. tão sozinho que me deitei no chão, onde estremeci até se apagarem todas as luzes.
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