Thursday, October 11, 2007

desassossego

na verdade,
sim--eu quero
ser exactamente
como todas as mulheres
como cada uma
a combinação
o conjunto
a soma
das mulheres
que já tiveste.

eu quero ser a mexicana
que se levantou cedo
para fazer salsa fresca.
quero ser a que mudou de país contigo.
quero ser a que te dava presentes
e de quem gostavas pouco
ou mais ou menos
ou ainda menos.
quero ser as de anos lentos
as de noites curtas,
as de sono leve.

quero ser aquela com quem acordaste
e te levantaste
com languidez
enquanto o prédio se derramava em lume.

disse que não queria
porque é o que dizem os amantes
nestas ocasiões,
mas a verdade

é que quero ser
a multiplicação
das mulheres
que já te amaram
que já se te deram
que já te quiseram

e assim amar-te, querer-te, dar-me
sem desassossego,
sem ciúme, sem cio,
ainda mais.

4 comments:

miguel said...

e assim, pergunto-me eu, que faço eu aqui?

afinal o desprendimento.. o problema é quando queremos desprendermo-nos dele.

Inês Santos said...

não sei se percebi...

miguel said...

que faço eu aqui qdo alguém escreve assim. sou só uma amostra.
o desprendimento afinal nem sempre apetece.

Inês Santos said...

a modestia nao te fica bem...
(ainda assim obrigada pelos comentarios sempre encorajadores)

quanto ao desprendimento... concordo. neste momento, a "estar presa" sabe muito muito bem. faz-me pensar nos anos em que eramos todos honestos nos nossos devaneios e paixoes, quando tinhamos pouca vergonha e muito desejo.