Monday, October 31, 2005

Poema de amor com final feliz

a ti o mar e as estrelas
das noites e das madrugadas,
a ti os reflexos de lua
caminhando até ao horizonte.
a ti o vento quente
o cheiro das manhãs,
a ti o nevoeiro das falésias
e os livros acabados de escrever

por ti nascem flores
porque lhes trazes primaveras,
por ti acordam palavras adormecidas
e caminham-se distâncias nunca percorridas
por ti e a ti se prostram as nuvens
se levanta o dia sobre o recorte da serra,
por ti se içam velas de navios
e rumam navegantes sem cais.

por ti as flores de cerejeira
e o sabor das amêndoas doces,
por ti as tintas nas telas dos pintores
por ti os beijos trocados nas ruas e nos jardins
por ti um colapso de morte sem fim,
um olhar para sempre guardado em mim.
a ti um beijo enviado nos ventos
que te acompanham nas viagens
e em todos os momentos.
a ti uma vida distante que fica a teu lado
como um abraço desde sempre até ao fim dos tempos.

Saturday, October 29, 2005

Poema de amor

a ti o mar e as estrelas
das noites e das madrugadas,
a ti os reflexos de lua
caminhando até ao horizonte.

a ti o vento quente
o cheiro das manhãs,
a ti o nevoeiro das falésias
e os livros acabados de escrever

por ti nascem flores
porque lhes trazes primaveras,
por ti acordam palavras adormecidas
e caminham-se distâncias nunca percorridas
por ti e a ti se prostram as nuvens
se levanta o dia sobre o recorte da serra,
por ti se içam velas de navios
e rumam navegantes sem cais.
por ti as flores de cerejeira
e o sabor das amêndoas doces,
por ti as tintas nas telas dos pintores
por ti os beijos trocados nas ruas e nos jardins
por ti, amor, desconhecido de nós e de muitos
que nos deixas sem descobrir a paisagem
pintada a cores.

Tuesday, October 25, 2005

A Caeiro

se há ou não curva na estrada
pouco interessa
porque a vida é esta aqui plantada
não outra que fique para lá.

se há curva, que curve então,
longe ou perto,
mas que não tires teus pés do chão
enquanto o momento for mais que o deserto.

se para lá da curva existes,
que existas pois então,
mas que antes da curva vivas,
agarrando cada instante sem que te escape da mão,

deixa a curva
se lá chegares, chegarás
e só aí haverá curva,
antes, agora e depois.

Monday, October 24, 2005

Variação sobre o Expressionismo (ou "vives como a morte, morres como a vida")

corre sereno o vento
que me afaga ausente
na encosta sobre o rio
que serpenteia entre as luzes do poente

em fogo as árvores despedem-se
do estio, do calor, da noite suada
e as folhas caídas no chão
lembram-me os pés descalços no verde da estação passada

chegaste e trouxeste a luz difusa
amo-te mais que a todas as outras eras
porque cheiras a terra molhada
vives como a morte
encerrando as flores
morres como a vida
e levantas-me a alma porque cheiras a terra molhada.

Variação sobre o Expressionismo II ( ou "outono")

corre sereno o vento
que me afaga ausente
nas margens do rio
que serpenteia entre as luzes do poente

de fogo as árvores despedem-se
do estio, do calor, da noite suada
sob elas as folhas caídas lembram-me
os pés descalços sobre o verde de uma estação passada

chegaste e trouxeste contigo a luz difusa,
amo-te mais que todas as eras,
vives como a morte
e és o dia mais sagrado porque cheiras a terra,
morres como a vida,
e levantas as almas porque cheiras a terra molhada.

Friday, October 14, 2005

variação do impressionismo

a luz rompe a vidraça
com o fulgor das chamas mais altas,
nu o corpo descansa no chão,
jaz um cigarro aceso fumegando
como quem insiste numa lógica que falta pensar.

denso o ar que respira,
suaves as melodias que ecoam
agora repetidas pela sala inteira,
como quem insiste numa dança que falta bailar.

e as luzes paradas, com fumo no ar
lembram a imensa vontade de ... parar
um segundo só para saborear a voz francesa de mulher
que em todas as cores canta pela minha vitrola.

variação sobre o surrealismo (ou os tempos sem definição)

era uma manhã fora do relógio,
sem calendário, apenas nuvens
em águas pela rua no chão ,
manhã de quê, outono inverno primavera verão?

e viajavam as vozes de vendedores
entre paredes juntas de casas apartadas
ecoando entre estações desencontradas
do tempo em que podias dizer o que nessa manhã
iria ser passado, outono inverno primavera verão,
como hoje no dia de amanhã.

variação sobre o classicismo

ah musas do outro rio,
que reflecte o céu a sul,
orlando uma cidade anciã
erguida sobre o sal,
portem meu corpo sobre vossos braços
e cubram meu rosto com folhas de Outono.

ah deuses de outras terras e céus,
levantem nosso corpos
em ascendentes vitórias sobre a escuridão,
façam filhos em nós
que nasçam com a força do vento
e empurrem as nuvens para descobrir o sol.

e flores, sorri quando me acolhem
nas vossas cores pintadas a fogo,
façam soar as flautas dos centauros
e dançar ninfas em meu redor.

Wednesday, October 12, 2005

estórias do vento norte

vazio, negro, singular
o cântico que se repete
em mim, como um vibrar
das ondas do mar,

entoa-se a si próprio
e flutua no ribeiro
que corre entre as árvores despidas
do bosque do meu olhar,
perdido no sol vermelho a poente
com o vento norte a murmurar
segredos por contar,
estórias para sorrir
que negamos ouvir.

Friday, October 07, 2005

Aparição

as chuvas caem formando uma cortina
que te serve de espelho.

do outro lado, desenham-se figuras altas, esquálidas,
pintadas a tintas através de um vidro fosco.

do teu lado, tu, numa aparição que colapsa
exactamente sobre ti.