na manhã fria, ferve o leite enquanto reprime a raiva que só por força não se lhe arranca do peito.
e prepara os últimos restos na carteira rasgada para o jornal. os dedos tremem-lhe, dignos, ao frio.
estudou. sabe fazer. meia-vida trabalhou, nunca foi repreendido. aliás, sempre se esforçou para não o ser.
no entanto, fazem o mesmo por menos, dizem-lhe. - já ali ao virar da esquina -
pôs o fato-macaco de lado num dia em que os jornais anunciavam as mulheres chorosas da fábrica que fechava mesmo ali ao lado.
mas nunca publicaram seu rosto erguido confiante,
ombro-a-ombro com os camaradas que à porta da empresa erguiam, resistindo, um futuro melhor.
hoje, ele luta ainda. as mulheres da fábrica do lado continuam carpindo.
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1 comment:
Excelentes trechos e poemas, meu camarada.
Há uma maneira tua de atirares pedras contra canhões que mereceria outra divulgação que não só este blog em que tão poucos nos encontramos.
Temos de tratar disso. Mais pedras, mais pedras, que os canhões são muitos e feros.
Um abraço
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