Naquele dia tinha chovido.
O ar ainda estava cheio da luminosidade de Inverno, como se todo ele fosse espelhando os raios de sol quente que contrastavam com o cenário molhado.
Naquele parque, longe de minha casa, dava voltas ao que ainda guardava da noite anterior.
Tentava vislumbrar entre as memórias enevoadas, o código perdido dessa noite que me tinha dado um nó, não na garganta, mas no pensamento.
O parque olhava-me enquanto o contemplava.
De alguma forma, eu era-lhe indiferente, como lhe era o meu olhar pousado num dos seus lagos. De alguma forma, ele só queria abraçar-me.
No fundo do lago, descansavam folhas dos últimos dias do Outono, de um castanho já morto. E era essa morte que dava vida às águas onde não nadava um único peixe. De fora, com o sol na cara, era forçado a semicerrar os olhos. O mais importante para mim já não era a noite anterior. Ali… eu não respirava. Estava antes a ser respirado. Nesse mesmo instante, colapso. E, desaparecido, nunca me tinha sentido mais vivo. E foi o cheiro da terra molhada. O cheiro mais puro, decerto o cheiro do primeiro dia, porque é o cheiro do mundo imaculado…
Olhei a relva, um verde húmido escondia a terra mas o cheiro não. Senti aquelas gotas nas minhas mãos. Geladas, desceram até à terra, abaixo dos fios verdes de relva. A terra tocou-me.
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