os raios de luz misturavam-se em rodopio com o fumo do cigarro que viajava perto da janela do estúdio. eram aliás as últimas persistências da luz daquele dia e, por cima das mesas cheias de papel, o ar fazia-se escuro. pelo estúdio não vibrava qualquer som e os passos dela ouviram-se na perfeição. ele estranhou a visita. porém virou a cadeira para entrada à espera da silhueta divina recortada contra as luzes da escadaria que pendia até ao nível da rua. o que iria na rua naquele fim de tarde?
ela assomou-se da porta. deu três passos. determinados. a roupa leve adivinhava o corpo mais amado. as palavras sairam-lhe claras, vou embora. os pulmões dele contrairam-se. o coração sobressaltou-se. mas os lábios ficaram cerrados. o último cigarro ainda a viu virar-se sobre os pés, com um jeito calmo da anca.
a noite caiu e a janela abriu-se mais. felizmente havia estrelas.
deitado de costas no chão, o céu pontilhado de luz abraçava-o. olhava as estrelas sabendo que nelas via o passado.
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