Monday, December 05, 2005

anoitecer de dezembro


Sobre o rio mirava as almas dos meus pensamentos. Alguns deles não conseguia decifrar, passavam mais depressa que as nuvens. Sentado à beira da terra, desenhava num papel tudo quanto ainda era minimamente claro depois de tanto daquele vinho licoroso.
De facto, pelas veias rarefeitas corriam longos travos de mel. Mel.
Sobre o rio mirava as almas dos meus pensamentos. Mesmo daqueles que nunca tinha tido, sentia-lhes o sangue ferveroso, como o meu. Anunciavam-se novidades depois daqueles minutos ali sentado. O céu mudava-se como eu. Como eu escurecia-se, carregava-se, franzia-se, em breve começaria a chorar.
Sob o céu anoitecido caminhavam por ali outros tão viajantes como eu. Nem a chuva nos mandou embora. Colectivamente fomos como flores goteadas de orvalho, naturalmente, não fugimos, serenos. Sobre nós caíam as gotas do rio que se levantara.

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