Friday, December 16, 2005

I, II, III... revolução (nasce, olha, cresce, revolta-te)

I

no dia em que nasceste
não se acenderam chamas no céu,
não se desenharam por aí
sorrisos em cada esquina,
no dia em que nasceste
as montanhas não rugiram
não se riscaram cores celestes
nem as pétalas abriram
em tons diferentes,
no dia em que nasceste
não se levantaram mãos
não caíram lágrimas de alegria
não nos olhámos como irmãos
era apenas mais um dia
no dia em que nasceste
a história não escreveu mais livros
ninguém dançou em rodas de mãos dadas
nem decorou praças nem ruas
nesse dia não se abriram por ti garrafas de vinho

II

os olhos que mais tarde abriste
não viram mais que o que existia
não viram mundos dos livros
a vida era a verdade
e a verdade não tinha chamas no céu,
sorrisos, montanhas floridas,
não tinha arcos pintados,
nem flores de diferentes cores,
não havia mãos livres levantadas, nem lágrimas de alegria,
irmãos, só nascidos do ventre da mesma mãe,
não se dançavam rodas alegres,
nem as ruas tinham a cor dos campos em flor,
o vinho só na cave e mesa do teu patrão
a história era apenas o processo do teu próprio desaparecimento.
a verdade era a tua extinção.

III

desenganem-se os donos da resignação
os balofos generais da exploração
desiludam-se os necrófagos,
parasitas e outros mestres da ilusão.
que a tua vida não estava escrita
nas páginas da sua ambição,
nem podiam conter-te as forças
nem as raízes da tua libertação
não podiam cortar-te o sopro
de vida colectiva em tua respiração.

IV

eras apenas tu,
herói das memórias por criar
novo, em todo o teu viver,
criar agora é tarefa tua,
deixaste deus no seu lugar.
e o vinho, e as uvas, e as sementes das uvas
e a terra onde plantas as sementes, e a cave e a mesa,
e as ruas alegres, as danças ao luar,
as lágrimas felizes, as mãos levantadas, livres, cerradas,
as flores, os céus riscados, as estrelas,
são agora o papel onde escreves a tua história
com tintas de vitória.
e irmãos, todos, todos do ventre de uma terra libertada
nossa mãe.

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