Não rasgaram os céus crepusculares
Não nasceram os sóis nem luas
Nem vieram estrelas vibrar
Acima de nós,
Não correram as ágeis águas
Na margem do rio onde não nos deitámos
Nelas não reflectimos um beijo que não demos
Nem sentimos vagas de ventos que não sopraram,
Não somos amor que não tocámos
Corpo que não acendemos,
Nem pele ou curva que não seguimos com o dedo
à luz do candeeiro ténue apagado
Não existimos, pois
sem o peito cheio do ar que não respiramos,
nem os sabores do fruto que a árvore não deu,
não nasceu.
Não, não somos
o que negamos, o que não sentimos
não somos a água que não correu em nós,
não o vento que não soprou,
não a boca que não beijámos
e não o corpo que não amámos.
Somos a lama que amassámos,
com os pés com que nascemos,
mesmo que por nós não tenha nascido
um sol, nem lua,
nem tenham corrido águas,
nem soprado ventos,
por não sermos nada
ao lado da montanha.
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