Friday, September 16, 2005

Locomotiva

O som é metálico,
a força, humana,
o ritmo, não.

A máquina não cede,
as mãos fortes
e os braços de homem
martelam a continuidade
dos sons, da matéria
da transformação.

Pelo claustro fechado
ecoam as palavras do ritmo
escravo das horas que não passam
e do pulso impossível
do combustível asfixiante.

Ali dentro, entretanto,
não entram raios de dia,
é permanente noite oleada
na prensa, no torno,
na bancada.
O desperdício manchado
por vezes do próprio sangue
é a malha com que se tece
aquela Humanidade.

O pão é dali que vem,
dos claustros e corredores apertados
dos trabalhos desenfreados
do martelo, bigorna,
forno e alicate de pressão,
A esperança é dali que vem,
como locomotiva latente,
bem presente,
quando unidos cantam hinos
de libertação.

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